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  • Foto do escritorKaroline Rodrigues

Polêmicas da Rédeas Parte 2: Elegibilidade de Amadores

O segundo assunto mais polêmico da enquete foi a questão da elegibilidade de amadores.


Com certeza esse vai ser o mais difícil de escrever, destrinchar de um jeito organizado, e ainda correndo o risco de ser mal interpretada.


Mas bora que o espaço é pra isso!


Na minha opinião, existem duas vertentes do assunto: (lamento pela sistematização, mas é o jeito que o meu cérebro organiza as ideias)


1. O comportamento dos competidores diante da regra


O GRANDE problema, na minha opinião, é que existe uma regra, e existem aqueles descumprem a regra ou fazem uso de artifícios para burlar a regra ou interpretam a regra de outra forma para justificar seus desvios.


Começo por aqui porque pra mim esse é o verdadeiro problema. É com isso que as pessoas deveriam se preocupar. Com quem está a todo momento buscando formas de tirar vantagem das situações em detrimento de quem, como diria seu Jair, “joga dentro das 4 linhas”.


A maioria das (se não todas) grandes polêmicas nos últimos anos na Rédeas no Brasil se resumem a essa questão, já pararam pra pensar nisso? “Amador” que pega cavalo de fora pra treinar, “amador” que monta em cavalo de terceiro que todo mundo sabe que não é comprado nem arrendado, “amador” que dá aulas e é remunerado por isso, “amador” que  tem inscrição paga pelo dono do cavalo, e por aí vai.


Isso sim merece atenção, porque é isso que prejudica a indústria.


Vale só um parênteses para dizer que essas situações são diferentes daquelas em que a pessoa viola o regulamento por (i) não conhecer a regra ou (ii) não entender a regra, e por isso eu acredito que não age de má-fé. Geralmente isso se resolve com orientações e informações.


E já que estamos lavando a roupa suja, fica aqui registrado que não tenho orgulho de coisas que eu mesma já fiz. Quando você é criança/jovem e todo mundo acha bonitinho você montando, ou quando você não tem dinheiro para comprar um, não é raro te emprestarem um cavalo para competir. Quando você é filha de treinador que tem vários cavalos em casa, não é raro o cliente perguntar se não quer dar mais utilidade e campanha pro cavalo correndo no amador (aconteceu outro dia comigo). Quando você monta o suficiente para beliscar alguma colocação, não é raro um proprietário te oferecer um cavalo para correr uma prova com premiação boa. Quando você compra um cavalo de sócia com seu (na época da compra) namorado e corre nele no amador porque acha que a metade dele é suficiente para ser proprietária, e porque você acha que pra associação noivado (na época da prova) é igual relação jurídica matrimonial, não parece absurdo você correr no amador. Gente, tudo isso já aconteceu comigo. E gente, TUDO isso está errado diante do regulamento. De cara, quando você está na situação parece inofensivo, mas quando você vê mais gente fazendo percebe o quanto é errado.


Chega uma hora que você olha pra essas coisas que você acaba fazendo e sente que não está certo. Quando você entende de verdade o real significado do regulamento e o seu papel na indústria, você se dá conta de que tudo isso é ilegal, imoral, antiético. É errado, e eu sinto muito.


2. A regra em si


Aqui a gente entra no conteúdo do regulamento. Como se diz no “juridiquês”, no MÉRITO.


E não acho que isso seja uma polêmica, mas sim uma discussão contínua, que envolve diversas perspectivas, e que faz parte da construção da modalidade.


É algo que vem sendo ajustado ao longo de tantos anos de NRHA, e tem um motivo de ser, diante das situações que se apresentaram na prática, e provavelmente ainda mudará conforme as coisas forem evoluindo.


O regulamento diz, literalmente:


(a) Um Amador é aquele que:(1) No momento que solicita seu status de Amador (“Non Pro application and Declaration”), não tenha ganhado mais US$200,000 na Aberta em provas de Rédeas (Categorias 1, 2 e 6 da NRHA);

(2) Nos três anos anteriores da data de solicitação de status de Amador, não tenha recebido remuneração pelas seguintes atividades (“Atividades Proibidas”):

i. Treinar e apresentar montado em qualquer modalidade equestre; ouii. Dar instruções para apresentação ou treinamento de um cavalo de performance;

(3) Praticar Atividades Proibidas enquanto for Amador.


A regra, gente, é bem simples, e tudo nela tem uma razão de ser. Quando se lê as definições de cada termo mencionado nesse trecho (que é a seção seguinte no regulamento), tudo é pensado em situações práticas, e tem um porquê.


É o ideal? Talvez não. Para muitos, não mesmo! Mas eu entendo que seja o melhor que se pode ter no momento para se poder fazer uma classificação OBJETIVA sobre quem é ou não Amador. Meu entendimento é que outros argumentos e outros critérios para essa classificação falham no quesito objetividade.


Há divergências quando se discute a questão do “quem vive do cavalo”, que é profissional. É preciso entender que o motivo da regra é que quem vive do cavalo recebe para TREINAR, APRESENTAR E ENSINAR. A remuneração é um critério objetivo porque ela pode (e deve) ser comprovada em caso de questionamento do status de Amador de alguém. Além disso, a remuneração é, na essência, o que define o caráter profissional de uma atividade.


Vamos mais adiante no que diz o regulamento:


(1) “Remuneração” é definida como o recebimento de:

i. Dinheiro, pagamento ou ganho financeiro por um trabalho realizado;

ii. Mercadorias, serviços ou descontos em troca de um trabalho realizado.

(2) “Treinamento” é a preparação montada de um cavalo com o intuito de melhorar a sua performance em qualquer disciplina equestre.(3) “Dar instruções para apresentação ou treinamento de um cavalo de performance” significa fornecer orientação ou aulas com o intuito de melhorar a habilidade de um cavaleiro em apresentar ou treinar um cavalo de performance.

(4) “Cavalo de performance” inclui cavalos que praticam modalidades “western stock” (originada do trabalho na lida), incluindo mas não se limitando a Rédeas, Cow Horse, Apartação, Laço, Ranch Riding, Ranch Versatility, etc.


Tudo isso é passível de verificação. Isso é o que define quem “vive do cavalo”.


Em contrapartida, há quem “viva o tempo todo com o cavalo”, seja por sorte, por herança, por casamento, por ter nascido em família de treinador, por morar perto de um centro de treinamento, ou por qualquer outro motivo.


Quem “vive do cavalo” é diferente de quem “vive o tempo todo com os cavalos” ou “vive o cavalo”. Eu, por exemplo, vivo o cavalo desde que nasci, e vivo o tempo todo com os cavalos principalmente depois que voltei a morar aqui em 2016. Meu pai é treinador, meu marido é treinador, moro dentro do centro de treinamento, da minha porta vejo as duas pistas e o redondel faz poeira na minha casa. Faço financeiro e administrativo, organizo inscrições de prova, faço GTA, essas coisas.


Lembro vagamente daquela pessoa que montava todos os dias lá em 2000/ 2001, ou depois em 2018/2019/2020, mas a verdade é que a última vez que subi num cavalo foi no Super Stakes da ANCR em novembro do ano passado. Morei em São Paulo por quase 10 anos (2006-2015), e montava de vez em quando aos finais de semana, corria sem treinar. Eu monto muito menos que muitos amadores que correm prova comigo, monto menos que todos os amadores do rancho, por exemplo. Afinal, eu não monto nada hoje (kkkkkkrying, e ainda cogitando correr Copa Sacramento na fé!).


Por essa perspectiva, eu poderia me considerar em desvantagem com relação a outras pessoas que têm - ou que eu imagino que tenham - mais condição de treinar do que eu. Da mesma forma, muitas pessoas imaginam que eu tenha mais condições de treinar do que elas. Conseguem ver como é SUBJETIVO esse critério? Porque ninguém sabe na real como é o dia a dia de cada um, e essa realidade é muito relativa e pessoal.


Quem não “vive do cavalo” e não “vive o cavalo” pode interpretar que as duas são a mesma coisa. Não por mal, é até um sentimento compreensível e natural.


Vendo pela realidade que vivo hoje, fato é que avaliar as condições dos atletas amadores a fim de criar uma equiparação dentro da categoria é algo impossível, parcial e que consequentemente injusto.


A discrepância - seja ela técnica, de poder financeiro, de acesso à estrutura, de disponibilidade de tempo, ou qualquer outra coisa - é a mesma que existe entre profissionais. E na minha visão, é pra isso que servem os níveis.


E se a gente analisar bem, quando se chega nos exemplos dos que “vivem o cavalo” - pare e pense aqui em alguns nomes que se encaixariam nessa “categoria” - existem duas variáveis principais que vão fazer diferença nos resultados em pista, principalmente O PODER AQUISITIVO e a HABILIDADE.


Porque assim, eu posso - e tenho certeza que você consegue - pensar em um exemplo de alguém que:

  • Compra cavalo caro mas monta mal e não ganha nada;

  • Compra cavalo caro e monta bem e ganha tudo;

  • Treina pouco mas monta bem;

  • Treina muito e monta mal;

  • Treina muito mas não tem cavalo bom;

  • Treina pouco e tem cavalo bom.


São muitas combinações possíveis que podem influenciar os resultados, porém elas todas são compostas por fatores muito pessoais e subjetivos. Insisto: por isso os níveis.


Eu poderia adicionar mais milhares de caracteres sobre o assunto, mas me faltam horas no dia. Estou sempre aberta a conversar - como tenho feito de modo muito respeitoso e construtivo com pessoas legais de verdade que estão sempre buscando aprender sobre o regulamento, a quem eu agradeço de coração pelo incentivo para vir aqui escrever - sobre esses assuntos, porque eu amo de verdade essa troca de informação.


Pra finalizar, eu reforço minha opinião de que o problema não é a regra, e sim o que fazem para burlar a regra. Um minuto de silêncio para esse comportamento.

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